DESCRIÇÃO da SESSÃO nº 4
Manuel de Azevedo não chegou a fazer a palestra prevista no programa distribuido. Antes de começar o espectáculo vi no corredor do Cinema Júlio Diniz o Manuel de Azevedo cheio de indignação a ir em direcção à saída, seguido pelo Hipólito Duarte, e dois ou três associados com funções directivas. Na altura não consegui apurar o que sucedia pois tinha de dar atenção a outras pessoas que estavam a chegar.
Para meu espanto, no início do espectáculo aparece o Hipólito na boca de cena com uma pasta, que pousa no chão. Explica que o jornalista Manuel de Azevedo não pode estar presente por motivos de força maior, e retirando da pasta uma folhas de papel passa a ler o texto da charla do jornalista.
O que se passou foi que o gerente do Cinema Júlio Diniz quisera ler o texto dessa charla antes do espectáculo, mas o jornalista recusou aquela "censura prévia" e indignando-se com a exigência feita, decidiu ir-se embora dramaticamente. Ora o gerente que era responsável por tudo o que sucedia dentro daquela casa tinha todo o direito de saber o que se ia dizer, pois naqueles tempos de informadores e polícia política, ele respondia juntamente com o próprio Cinema por qualquer dito que desacatasse a chamada "Situação". Hipólito Duarte muito diplomaticamente convenceu o indignado periodista a ceder-lhe o texto da tal charla antes de sair, e depois de o mostrar ao gerente e ter-se verificado que nada havia de subversivo, leu-o à plateia.
Estava salva a primeira grande sessão pública do cineclube!
[adaptado de crónica de Jorge Campos Tavares]